quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Eu, o cão.

Tive um sonho essa noite.
Eu estava no portão da casa de Vinícius. Já havia apertado a campanhia duas vezes e esperava, ansiosamente, ele atender para entrar de uma vez. Estava frio. Ele apareceu à porta com aquele olhar sonso que lhe é peculiar e veio aproximando-se lentamente com um sorriso nos lábios. Eu não gostava de Vinicius.
Abriu o portão, entramos. Falou-me que tinha uma surpresa nos fundos de sua casa e que eu, vejam só, iria adorar. Filho da puta. Não sei porque, ri e me fiz curioso. Ele me indicou a porta dos fundos. Quando saímos por ela, retornando para o frio da noite, eu avistei a surpresa. Olhei imediatamente para Vinicius e abri a boca para xingar sua mãe. Nenhuma palavra saiu. Ele, então, sorriu mais uma vez e caminhou vagarosamente para onde estava o seu cão. Era um Doberman, ou um Pitbull, ou RottWeiller. Eu não lembro. Era um cão de um tamanho de um cavalo. Estava amarrado a um portão de ferro usando uma fucinheira. Não consegui me mover de onde estava.
Vinicius então, chegando perto de seu cão, pegou num movimento leve a coleira que estava preso no portão e segurou-o de seu ímpeto de me atacar. Seu latido abafado ecoava pela noite e isso fez algo acontecer. De repente, percebi que algo estava em volta de minha boca, algo que quase impossibilitava minha respiração. Estava morto de medo, com dificuldades de não transperecer a tremedeira de minhas pernas. Mas, alguma coisa dentro de mim, me fez atiçar ainda mais o animal: comecei a gritar para ele também. Minha voz saia abafada devido a algo que parecia um pano sobre minha boca. O que era aquilo afinal? No entanto, não parava de gritar e chamar o cão pra briga. Vinicius começou a inclinar seu corpo pra trás para conter o animal. E eu percebi que ele estava se divertindo com a situação. Ria para mim com os olhos flamejantes.
Dado um momento, ele retirou a fucinheira do cão. E o seu latido tocou minha alma. Vinicius falou algo que não pude escutar e soltou a coleira. O animal, ao perceber sua liberdade, investiu impiedosamente em minha direção. Eu estava fodido. Alguns poucos metros nos separavam e ele sabia disso. depois de dois 'passos', pulou para o seu jantar e, ao invés de me dar uma mordida fatal, me segurou com suas mãos e encostou meu corpo em seu peito: ele virara um homem. Eu, incrédulo, o olhava e não entendia como ele conseguia estar me segurando. Quando percebi que eu é que possuía quatro patas e o pano em minha boca, agora eu entendia, era uma fucinheira, algo em mim modificou. Meus pensamento foram ficando embaçados e algo dentro de mim dava-me vontade de latir, de comer, de correr. Meus pensamentos foram transformando-se em instindos: fome, sede, fome. Fome. Com um olhar afetuoso, o homem - que ainda me carregava no colo - tirou minha fucinheira e, ao fazer isso, eu acordei.
29, julho.

Um comentário:

Violeta Gauche disse...

Joga no "bixo" pô!
Acho que isso tem bastante significado... e em algumas partes, tipo: "fucinheira", lembrou-me a sua personalidade.

Bons textos!

Baccio