quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Ah, o tempo...

Vivemos em função do tempo. Todos os dias acordamos num horário programado, para entregar trabalhos, estar em lugares, cumprir compromissos. Nossa vida é regida por prazos. Desde o início sabemos que aos dezoito seremos maiores de idade, para sermos permitidos a fazermos atrocidades em maior escala e que aos quarenta - para os homens - teremos que fazer o exame do toque e - para mulheres - será dado inicío a menopausa, a falta de sexo, o desaparecimento de cabelos na cabeça e o aparecimento exacerbado dos mesmos em localidades inóspitas outrora.
Mas, porra, vocês já pararam pra pensar que o tempo não existe? Isso mesmo! É só pararem pra pensar: o que é o passado? O passado é provido de acontecimentos que existiram, mas não existem e não voltam mais, gravados em nossas mentes (ou em qualquer tipo de suporte eletronico, é claro), mas que não são palpáveis, não são verificados através de atividades empíricas ou capazes de serem modificados. E o que é o presente? O presente não existe! Porque não há presente no sentido claro! Porra, o 'tempo' está se movendo o tempo todo... Então quando falamos: "agora!" O "agora" já passou. Não há presente, não há momento estático! E o futuro? O futuro mesmo... esse, eu nunca vi! Algo que ainda não aconteceu, no qual não temos a mínima idéia do que pode ocorrer. Do futuro nem podemos dizer que é provido de algo - como o passado é - pois ele ainda não aconteceu ou, pior ainda ainda, ele pode não acontecer.
Estranho? Pois é.
Então, digam-me: como nós somos, então, guiados por algo que não existe? Como, meus colegas amados, as diretrizes de nossas vidas são ditadas por algo inexistente? Como?
Tá, tudo bem... Depois dessa eu vou parar de escrever porque tenho que fazer o trabalho da Professora Elisa, estudar pra um concurso pro dia 27 de julho, guardar livros na estante até as 21:30 pra poder pegar o onibus as 22:00 e chegar em casa antes das 23:00! Mas longe de mim viver em função de prazos e datas... Longe de mim!

Imperfeições

Tem gente que sabe sempre o que fazer. Quando têm problemas, sempre sabem a hora de agir, o que argumentar, como se portar. Quem não tem esta 'dádiva' está fadado a ser prisioneiro de seus próprios impetos e imperfeições. Quem não sabe como desvencilhar-se de seu temperamento explosivo de sua pronta entrega a uma causa sem a devida estratégia, pena pelos outros e encontra em si mesmo um adversário poderoso na busca dos objetivos.
E, a estes infelizes seres, não lhe cabem tentar fazer algo racional, pensado e bem estruturado. Porque mais do que não conseguir atingir o seu objetivo inicial, consegue machucar outras pessoas e, pior ainda, machucar-se ainda mais.
Fica a dica àqueles que, por vonta de Deus todo-poderoso, não conseguem ser frios, estrategistas e capazes de serem sempre superiores.

Eu, o cão.

Tive um sonho essa noite.
Eu estava no portão da casa de Vinícius. Já havia apertado a campanhia duas vezes e esperava, ansiosamente, ele atender para entrar de uma vez. Estava frio. Ele apareceu à porta com aquele olhar sonso que lhe é peculiar e veio aproximando-se lentamente com um sorriso nos lábios. Eu não gostava de Vinicius.
Abriu o portão, entramos. Falou-me que tinha uma surpresa nos fundos de sua casa e que eu, vejam só, iria adorar. Filho da puta. Não sei porque, ri e me fiz curioso. Ele me indicou a porta dos fundos. Quando saímos por ela, retornando para o frio da noite, eu avistei a surpresa. Olhei imediatamente para Vinicius e abri a boca para xingar sua mãe. Nenhuma palavra saiu. Ele, então, sorriu mais uma vez e caminhou vagarosamente para onde estava o seu cão. Era um Doberman, ou um Pitbull, ou RottWeiller. Eu não lembro. Era um cão de um tamanho de um cavalo. Estava amarrado a um portão de ferro usando uma fucinheira. Não consegui me mover de onde estava.
Vinicius então, chegando perto de seu cão, pegou num movimento leve a coleira que estava preso no portão e segurou-o de seu ímpeto de me atacar. Seu latido abafado ecoava pela noite e isso fez algo acontecer. De repente, percebi que algo estava em volta de minha boca, algo que quase impossibilitava minha respiração. Estava morto de medo, com dificuldades de não transperecer a tremedeira de minhas pernas. Mas, alguma coisa dentro de mim, me fez atiçar ainda mais o animal: comecei a gritar para ele também. Minha voz saia abafada devido a algo que parecia um pano sobre minha boca. O que era aquilo afinal? No entanto, não parava de gritar e chamar o cão pra briga. Vinicius começou a inclinar seu corpo pra trás para conter o animal. E eu percebi que ele estava se divertindo com a situação. Ria para mim com os olhos flamejantes.
Dado um momento, ele retirou a fucinheira do cão. E o seu latido tocou minha alma. Vinicius falou algo que não pude escutar e soltou a coleira. O animal, ao perceber sua liberdade, investiu impiedosamente em minha direção. Eu estava fodido. Alguns poucos metros nos separavam e ele sabia disso. depois de dois 'passos', pulou para o seu jantar e, ao invés de me dar uma mordida fatal, me segurou com suas mãos e encostou meu corpo em seu peito: ele virara um homem. Eu, incrédulo, o olhava e não entendia como ele conseguia estar me segurando. Quando percebi que eu é que possuía quatro patas e o pano em minha boca, agora eu entendia, era uma fucinheira, algo em mim modificou. Meus pensamento foram ficando embaçados e algo dentro de mim dava-me vontade de latir, de comer, de correr. Meus pensamentos foram transformando-se em instindos: fome, sede, fome. Fome. Com um olhar afetuoso, o homem - que ainda me carregava no colo - tirou minha fucinheira e, ao fazer isso, eu acordei.
29, julho.